The Project Gutenberg EBook of Memoria hydrografica das ilhas de Cabo Verde, by Francisco António Cabral This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.net Title: Memoria hydrografica das ilhas de Cabo Verde para servir de instrucção a carta das mesmas ilhas, publicada em o anno de 1790 Author: Francisco António Cabral Release Date: June 12, 2011 [EBook #36404] Language: Portuguese Character set encoding: ISO-8859-1 *** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK MEMORIA HYDROGRAFICA--CABO VERDE *** Produced by Rita Farinha (This book was produced from scanned images of public domain material from the Google Print project.) *Nota de editor:* Devido à existência de erros tipográficos neste texto, foram tomadas várias decisões quanto à versão final. Em caso de dúvida, a grafia foi mantida de acordo com o original. No final deste livro encontrará a lista de erros corrigidos. Rita Farinha (Junho 2011) MEMORIA HYDROGRAFICA DAS ILHAS DE CABO VERDE, PARA SERVIR DE INSTRUCÇÃO Á CARTA DAS MESMAS ILHAS, PUBLICADA EM O ANNO DE 1790. POR FRANCISCO ANTONIO CABRAL. Agora novamente reimpressa, e augmentada com a presente Memoria pelo mesmo Author. Lisboa. M. DCCCIV. NA OFFICINA DE SIMÃO THADDEO FERREIRA. _Com Licença da Meza do Desembargo do Paço._ Esta Memoria só tem por fim mostrar ao Público o conceito, que da minha Carta se póde fazer; e por isso eu desde já começo com este objecto. Não me tem sido possivel encontrar Carta, ou Roteiro, de que podesse tirar algumas instrucções, para corrigir esta Carta; e antes me assegurão os Pilotos, e mais pessoas, que navegão para as mesmas Ilhas, que a minha Carta he a mais correcta: e com effeito parece que só estes he que podem decidir da sua exacção. Parece-me ouvir o Leitor dizer: «Esta Carta foi declarada por menos exacta, que a de Mr. d'Aprés em 1799 por huns Academicos Portuguezes, se me não engano: cujas razões frivolas erão, 1.^o porque ella differia muito nas configurações de algumas Ilhas, da Carta d'Aprés; 2.^o porque os meios usados pelo Author não erão bem entendidos; 3.^o porque a derrota aconselhada na mesma Carta era differente da que seguio d'Aprés, &c.» He verdade que assim foi, com pouca differença; mas tambem he verdade, que foi daquellas noticias de Gazeta, que requerem confirmação.[1] O Leitor prudente, e imparcial verá que eu demostro com toda a evidencia, em como a minha Carta he mais correcta, que a de Mr. d'Aprés: e a derrota, que aconselho, a mais segura, e a que seguem os Práticos daquellas Ilhas; e por consequencia, que os taes Academicos se enganárão miseravelmente, ou então entendião muito pouco desta materia. Começamos por hum ponto principal, e que logo dá nos olhos dos que sabem a Geografia daquellas Ilhas. Pergunto, quantos ancoradouros, ou pórtos dá a Carta de d'Aprés na Ilha brava? nenhum, como se póde vêr. Quando elle ha tres, que são, o da Furna da banda de Leste na cabeça do Norte da Ilha; e he hum excellente porto para oito, ou dez Navios pequenos no tempo das brisas, ou da monção. O porto do Feijão da agua da banda de Oeste tambem na cabeça do Norte; O porto do Ferreiro, que fica para o Sul deste: nestes dous pórtos costumão varios Navios Estrangeiros fundear no tempo das aguas, ou de inverno; e no do Ferreiro até se póde ancorar no tempo das brisas, e com Navios maiores; e não he necessaria tanta prática para entrarem nestes dous pórtos, como para entrarem na furna. Ora parece não ser pequena emenda o augmento de tres pórtos, dois dos quaes podem ser de de grande utilidade pata arribarem alguns Navios por occasião de necessidade, taes são o do Ferreiro, e de Feijão da agua. Não fica só nisto a emenda da Ilha brava: esta Ilha na Carta de Mr. d'Aprés he comprida, e lançada do Noroeste ao Sueste, e rodeada de perigos, sendo ella quasi redonda, e o maior comprimento do Norte ao Sul, e livre de perigos: pois só tem os Ilheos chamados de cima, e de baixo, como se vê na minha Carta; e estes mesmos não são cercados de perigos, e só tem algumas restingas de arêa com pouco fundo. Em quanto aos meios de que me servi para tirar a planta desta Ilha, são mais que sufficientes para o uso da Navegação: e até me atrevo presentemente a propôr hum bom premio para os que repugnárão os ditos meios, se me mostrarem outro methodo mais exacto, e mais simples, usando dos mesmos aprestimos, e em iguaes circumstancias: eu os omitto aqui por me livrar de maior despeza.[2] Mas posso affirmar que se eu podesse tirar a planta das outras Ilhas, como tirei a desta, a minha Carta seria huma das mais exactas. E em quanto ás outras, que tambem emendei, servi-me dos meios, de que se servem todos os Navegadores, andando á véla: e talvez os Mathematicos, que notárão a minha Carta por menos exacta, que a de d'Aprés, não fizessem com huns poucos de mil cruzados de despeza, o que eu fiz por patriotismo, e curiosidade (e a experiencia o tem mostrado): o Leitor Sabio dirá, sendo isto assim, como na verdade o he; porque senão hão de louvar os trabalhos, que varios homens de genio offerecem gratuitamente? eu lhe respondo sem talvez me enganar muito; porque algumas vezes succede dar-se o premio ao que critíca huma Obra, em lugar de dar-se ao que a fez sem tenção de interesse, e como he incomparavelmente mais facil dizer mal de huma Obra, do que fazer outra tão boa, ou melhor, sempre ha de ser muito maior o número dos zoilos, do que o dos homens úteis: mas vamos ao nosso objecto. Tem visto o Leitor, que a Ilha brava pintada na minha Carta, he a bem dizer huma nova Ilha comparada com a que vem na Carta de d'Aprés; sem que por isto se diminua o crédito de d'Aprés, pois elle nunca foi a tal Ilha, e só a veria de longe, bem como Mr. Fleurieu , e Verdum; cujos Navegadores forão tão sómente á Villa da praia na Ilha de S. Tiago. Passemos á Ilha do Fogo; esta só tem hum porto na Carta de d'Aprés, quando ha dois; hum de S. Filippe ao Norte para o tempo de Inverno; e outro de Nossa Senhora para o tempo de Verão, ou das brisas. Desta Ilha não direi mais, por estar só dous dias nella, mas posso affirmar ao Leitor, que a sua verdadeira figura he differente da que se vê na Carta de d'Aprés, mas não obstante eu a pintei por ella. Na Ilha do Maio tambem lá estive hum dia fundeado no porto do Inglez; porém como naveguei á vista della, tanto da banda de Leste, como de Oeste, e tirei informações dos Práticos, a deliniei da melhor fórma que me foi possivel, em ponto tão pequeno. Em quanto á Ilha de S. Tiago, parece-me esta Ilha a mais bem collocada, e delineada (deixando algumas pequenas differenças) das que se achão na Carta de d'Aprés: talvez por ser a mais frequentada de todos os Navegadores; e com effeito o porto da Villa da Praia he hum dos mais seguros de todas estas Ilhas no tempo das brisas, e o mais proprio para refrescar. Poucas addições tive que fazer, mas com tudo emendei a ponta do Norte, e fiz menção do porto do mangue no Tarrafal; e supprimi os Ilheos, que se achão pela parte de Oeste na Carta de d'Aprés; porque os não ha. A Ilha da Boavista tambem foi emendada, primeiro em notar-lhe a restinga de pedras, que ha entre o Ilheo, e a Ilha no porto do Inglez, cuja restinga se não vê na Carta de d'Aprés, e antes mostra huma passagem livre, e por consequencia hum precipicio a qualquer Navio, que fosse para entrar no porto, guiando-se pela dita Carta, sem mais noticia, e esta infelicidade já tem acontecido. E com effeito hum Piloto, que fosse dar fundo no porto do Inglez só pelo socorro da Carta, antes preferiria entrar por entre o Ilheo, e a terra, do que por entre o Ilheo, e o baixo, sendo esta ultima a entrada; porque entre o Ilheo, e a terra ha hum recife de pedra, como se vê na minha Carta. Notei mais o porto do Norte, que serve no tempo das aguas; porém este porto he muito arriscado, e os Navios, que não tiverem bom Prático, devem fugir de lá ancorarem em tempo algum. Alonguei os recifes de toda a parte de Leste da Ilha, por não estarem notados com segurança na Carta de d'Aprés: e tambem não estão ainda bem notados na minha, por me ser muito perigoso o reconhecer as extremidades de semelhantes recifes: e só direi, que esta Ilha he a mais perigosa de todas ellas; porque estes recifes da parte de Leste deitão muito para o mar, de maneira que no tempo das brisas, e em dias de neblina, hum Navio póde encalhar sem vêr a terra, como já tem acontecido: e he esta huma das principaes razões, porque os Praticos nunca vão demandar esta Ilha. A Ilha do Sal pela parte do Sul na Carta de d'Aprés acaba por huma ponta redonda, cercada por hum recife de arêa, porém não he assim; esta Ilha da parte do Sul finaliza por huma ponta de arêa bem comprida, e muito raza, que terá huma boa legoa de comprimento, a que chamão a ponta da Madama; e da banda de Leste ha hum ancoradoiro, como se vê na minha Carta. Vendo-se a parte do Sul desta Ilha, parece finalizar a terra, quando ainda ha a tal restinga, que apenas se vê de meia legoa no tempo das brisas; esta Ilha da parte do Norte não he perigosa, e he hum pouco montanhosa. Passando agora á Ilha de S. Nicoláo, verá o Leitor, que eu lhe dou huma figura muito differente daquella, que se vê na Carta de d'Aprés; porque na verdade assim he, pois eu a rodeei, e tambem deliniei parte della por terra, e estou muito bem certo, que os Navegadores acharáõ (como tem achado) ser esta a figura mais aproximada á verdadeira; tambem fiz menção do porto do Tarrafal. A Ilha Branca foi mudada para perto do seu verdadeiro lugar, e nesta mudança só póde haver differença de huma milha, por não ter occasião de tempo claro para fazer boas marcas. Em quanto ás Ilhas de Santa Luzia, S. Vicente, e Santo Antão, nada direi; porque só as vi de longe, e por isso as copiei da Carta de d'Aprés. Tem o Leitor visto que as emendas forão muitas, e que por consequencia a minha Carta deve ser mais exacta, do que a de d'Aprés, e isto mesmo he confirmado por aquelles, que para lá tem navegado, e só o negou quem nunca navegou. Vamos em fim a mostrar que a derrota prescripta na mesma Carta, he a melhor, a mais segura, e a geralmente recebida por todos os Praticos, que para lá navegão. Para decidir sobre a vantagem da minha derrota á de d'Aprés, não he necessario ter ido ás Ilhas de Cabo Verde, nem tambem he necessario ter navegado muito; porém he necessario entender o que são monções, e correntes, e ter lido Viagens, e saber alguma cousa de Hydrografia. Mas sempre devo advertir ao Leitor, que eu teria pejo de explicar hum semelhante problema, que por qualquer Navegante tem sido comprehendido, a quem quer passar por Professor de Hydrografia, se com effeito mo não tivessem duvidado sem fundamento algum. Antes que entre com esta demonstração, he conveniente prevenir o Leitor, de que estas Ilhas na maior parte do tempo das brisas se não podem vêr de mais de duas, até tres leguas; e em muitas occasiões se chega a vêr arrebentar o mar nas Costas, e se não vê a terra alta; e isto he sabido por todos os navegantes: além deste perigo temos o das correntes para Oeste, e fortes ventanias. Mr. d'Aprés diz pag. 13 edição de 1775. «Quando qualquer Navio não tiver destino particular, nem para o Senegal, nem para Goréa, e que a necessidade de agua, e outros refrescos, lhe fação preferir a escala por S. Tiago; em lugar de irem reconhecer a Costa da Africa, será mais conveniente, que partindo das Canarias dirijão a sua derrota para o Sul, a fim de se pôrem 25, ou 30 leguas a Leste da Ilha da Boavista, e na Latitude de 16^o, que he a do meio desta Ilha, e navegar para Oeste até a encontrar: eis-áqui a derrota que dá Mr. d'Aprés. Vejamos agora o quanto ella he perigosa. Para qualquer Leitor bem entender o que vou a dizer, será conveniente ter á vista a Carta destas Ilhas, ou ainda melhor, outra que as contenha. O Sabio Navegador Mr. d'Aprés claramente está dizendo, que os Navios da Companhia das Indias costumavão ir ao Senegal, ou a Goréa (e os que tem noticia deste Commercio muito bem sabem isto), porém se para lá não levarem destino, e quizerem ir a S. Tiago, lhes aconselha se mettão 25, ou 30 leguas a Leste da Ilha da Boavista, e isto partindo das Canarias, que he menos de meio, caminho partindo-se de Lisboa, e menos de hum terço, partindo de Porto Luiz. Está bem entendido, que partindo de Lisboa, ou de outro qualquer porto da Europa, e não vendo as Canarias, he necessario suppôrem-se mais de 30 leguas a Leste: por cuja razão temos huma derrota mais longa; e de noite não se deve navegar para a tal Ilha, segundo os perigos de que já fallei. Suppômos agora hum Piloto, que não esteja habil em achar a Longitude pelos methodos Astronomicos. Supponhamos tambem que mesmo sendo habil, não tem occasião, ou por muita neblina, como costuma haver das Canarias para Cabo Verde, ou em fim por não ser conjunção destas observações nos dias de viagem da altura das Canarias para Cabo Verde; pergunto, não póde ter hum erro de Longitude, que o faça passar pelo Canal, entre a Ilha do Sal, e a de S. Nicoláo, e não vêr, nem huma, nem outra, seja de dia, ou de noite? póde sem dúvida, e já tem acontecido a alguns Navios. Ora em semelhante caso navega para Oeste, porém a Ilha fica-lhe a Leste eis-ahi as Ilhas sotaventiadas, e a viagem perdida. Estes perigos he que não conhecem alguns Mathematicos, que nunca sahírão cá deste sitio, por onde anda a rapoza. Ainda aqui não fica só o perigo de varar a Ilha da Boavista por erro de Longitude, tambem se póde varar por erro de Latitude; hum, ou dois dias que não hajão observações das alturas meridianas do Sol, estamos tambem no caso da Ilha varada por erro de Latitude. Querem vêr todos estes perigos desvanecidos, vão demandar a Ilha do Sal pela banda do Norte, e se as correntes, e outros obstaculos, que se encontrão nestas, e outras navegações, tiverem deitado o Navio para Oeste do Meridiano da Ilha do Sal, elle necessariamente irá encontrar com a Ilha de S. Nicoláo, ou com: a de S. Luzia, se navegar por maior Latitude. Em quanto ao erro da Latitude, bem se vê que as quatro Ilhas de S. Nicoláo, S. Luzia, S. Vicente, S. Antão, occupão hum intervallo de Latitude, que não póde ser varado por falta de dois, ou ainda mais dias de Sol. Por esta derrota até não he necessaria tanta segurança para Leste: por outra razão, a Ilha do Sal he livre de perigos, quando a da Boavista he perigosissima. Ora quem negar que este modo de navegar não he mais seguro, e mais breve, tambem nega, que 3 e mais 2 não fazem 5, e não he muito que negue a existencia das Ilhas de Anadias, que ficão lá no cabo do Mundo. Por esta derrota vai hum Navio directamente para todas as Ilhas de Barlavento, e destas para as de Sotavento. Supponhamos por exemplo, que sahia hum Navio de Lisboa para as Ilhas de Cabo Verde, e que levava destino para ir a S. Nicoláo; que fazia este Navio em ir demandar a Ilha da Boavista? fazia huma viagem maior, e de mais perigo. E não obstante vêr-se na Carta, que o rumo da Boavista para S. Nicoláo seria a uma larga com Vento NE. ou NNE. não succede assim; porque he necessario attender a hum angulo de 4, ou 5 rumos para o Norte, a fim de compensar a velocidade da corrente, que vai para Oeste. As viagens por entre estas Ilhas bem mostrão o quanto he perigoso sotaventíallas, pois das Ilhas de Barlavento para as de Sotavento, a viagem he pouco mais, ou menos de vinte e quatro horas; porém destas para as de Barlavento, se gastão muitas vezes 12, 15, 18 dias com muito trabalho, e desassocego. Por outra parte, a Ilha do Sal he livre de baixos, quando a da Boavista he cercada delles, como já tenho dito: nella se tem perdido varios Navios desgraçadamente: no anno antecedente ao da primeira viagem, que fiz para estas Ilhas, se perdeo nos baixos desta Ilha, vindo-a demandar segundo a derrota de Mr. d'Aprés, hum importante Navio Inglez da Companhia das Indias, que hia para a Asia, morreo a maior parte da gente, e se perdeo todo o Navio, carga, e mais de hum milhão de patacas; além deste ouvi fallar na perdição de outros, cujas épocas não erão muito antigas. A respeito da derrota, que seguio Fleurieu, não me serve de exemplo, pois elle não foi de Rochefort, em direitura ás Ilhas de Cabo Verde, mas sim da Ilha Goréa na Costa da Africa, para a Villa da Praia; e foi demandar a Ilha do Maio. Outro tanto direi de Mr. Verdum, porque fez a mesma viagem, e tambem foi demandar a Ilha do Maio. Em conclusão, quer o Leitor vêr hum facto bem remarcavel, que authorisa os meus raciocinios, e que decisivamente reprova a derrota de d'Aprés, em mandar procurar a Ilha da Boavista, como tambem a daquelles, que vindo do Norte procurão a Ilha do Maio. Torno a dizer, a Ilha da Boavista não deve jámais ser demandada, porque ella hia sacrificando nas suas ruinas o Principe dos Navegadores. Sim, amigo Leitor, Cook o mais habil, o mais célebre, em fim o mais feliz dos Navegadores Inglezes, e de todas as Nações do Mundo, alli hia sendo victima dos rochedos, que cercão esta Ilha pela banda de Leste. Na terceira viagem deste immortal Navegador, Tomo I. Capitulo III. se vê o que agora vou a descrever. «Aos 10 de Agosto de 1776, ás nove horas da noite vimos a Ilha da Boavista demorando ao Sul, e a pouco mais de huma legoa: nós pensavamos estar muito mais longe, porém então reconhecemos o nosso engano. Tendo virado a Rumo de Leste até á meia noite, a fim de montar os baixos, que cercão a Ilha pela parte do Sueste, e que deitão huma legoa pouco mais, ou menos para o mar, nos achámos tão perto delles, que viamos encapellar o mar sobre os recifes. A nossa situação foi por alguns minutos consternavel: eu não achei acertado sondar, porque esta operação faria augmentar o perigo, sem usar primeiro dos meios de nos affastarmos, &c.» Quando ao Capitão Cook lhe aconteceo hum engano, que tão desgraçado hia sendo a todo o Mundo, que diremos dos outros Navegadores em geral? Isto muito bem confirma as minhas reflexões, que acima ficão ditas; quero dizer, que nem só ha risco de varar as Ilhas para Oeste, mas tambem de se irem perder de noite na Ilha do Sal, para completar a Latitude da Ilha da Boavista, pensando que a Ilha do Sal lhe demora para Oeste: aqui se vê quanto a derrota de ir demandar a Ilha do Sal he segura; pois logo que qualquer Navegante se acha proximo a completar a Latitude desta Ilha, começa a navegar com muita cautela, e só a verá de dia, e como no seu caminho não ha Ilha, nem baixo, está seguro de não encontrar perigo algum. Á primeira vista tambem parecerá a derrota, que vou a descrever, muito boa. Vem a ser: hum Navio, que vá da Europa, e só quizer ir refrescar á Villa da Praia, metta-se no parallelo do meio da Ilha do Maio, e tanto a Leste, quanto julgue conveniente a segurança da sua derrota: depois navegue para Oeste até vêr a Ilha, governando então pela banda do Sul da Ilha, vá demandar a Villa da Praia. Esta derrota, segundo as indagações que tenho feito, he muito usada pelos Navios grandes, que só vão refrescar á Villa da Praia. Porém ella requer huma grande certeza de Longitude, e Latitude, e a falta desta certeza faz a viagem mais demorada além de duvidosa. Mas como o reconhecimento da Ilha do Sal he muito mais seguro, e fica no caminho da derrota, não ha razão alguma para não seguir esta derrota, que por todos os lados he mais vantajosa, principalmente para os que vão de proposito para estas Ilhas. Como nem só os bons arrazoamentos decidem em materia de prática, eu além das vantagens, que conheci na derrota que segui, tive, antes de publicar a dita Carta, o cuidado de examinar, se com effeito*** esta derrota era usada pelos Navegantes daquellas Ilhas; e com a sua confirmação então a publiquei: presentemente me assegurão, que nem só os Portuguezes, porém todos os Americanos, e em geral todos os que conhecem a Navegação destas Ilhas de Cabo Verde, seguem a derrota de irem demandar a Ilha do Sal. Eu tambem posso affirmar que os Americanos me tem gasto huma boa porção destas Cartas, que mandei para as ditas Ilhas. He necessário combinar a Theorica com a experiencia, porque sem esta combinação, tudo he palhada, e palanfrorios; e se os Críticos da minha Carta usassem desta combinação, não produzirião razões frivolas para negar o certo, e confirmar o duvidoso, como por exemplo, a publicação do baixo do Victo sem escrupulo algum, e outras mais, &c. FIM Notas: [1] Não respondi logo ao tal Annuncio do Gazeta; 1. porque eu sempre tratei esta Carta de bagatella; 2. porque o mesmo Annuncio estava mostrando a fragilidade das suas razões, e as pessoas de juizo claramente conhecêrão, que era intriga formada por alguns individuos, e por consequencia a Carta ficou com o mesmo crédito; 3. porque ainda a impressão não estava concluida, mas presentemente como está finalizada, era justo, que fazendo segunda impressão, lhe addiccionasse a presente Memoria. [2] Será bom responder agora ao Commentador desta Carta sobre huma dúvida, com que elle fez alguma bulha entre os seus Socios Academicos, e he que a maneira de como me servi para tirar a planta da Ilha brava, era muito duvidosa, em razão da determinação das bazes, não se lembrando que os alinhamentos só se podem fazer no mar alto, por meio da bussola, ou agulha de marear, e que outros quaesquer meios serão quimeras; porém merece toda a desculpa, visto qUe, nunca tenha navegado, nem emprehendido semelhantes trabalhos. Lista de erros corrigidos Aqui encontram-se listados todos os erros encontrados e corrigidos: +----------+---------------------+----------------------+ | | Original | Correcção | +----------+---------------------+----------------------+ |#pág. 6| naverdade | na verdade | +----------+---------------------+----------------------+ End of the Project Gutenberg EBook of Memoria hydrografica das ilhas de Cabo Verde, by Francisco António Cabral *** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK MEMORIA HYDROGRAFICA--CABO VERDE *** ***** This file should be named 36404-8.txt or 36404-8.zip ***** This and all associated files of various formats will be found in: http://www.gutenberg.org/3/6/4/0/36404/ Produced by Rita Farinha (This book was produced from scanned images of public domain material from the Google Print project.) Updated editions will replace the previous one--the old editions will be renamed. 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It exists because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from people in all walks of life. Volunteers and financial support to provide volunteers with the assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will remain freely available for generations to come. In 2001, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 and the Foundation web page at http://www.pglaf.org. Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit 501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at http://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent permitted by U.S. federal laws and your state's laws. The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered throughout numerous locations. Its business office is located at 809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact information can be found at the Foundation's web site and official page at http://pglaf.org For additional contact information: Dr. Gregory B. Newby Chief Executive and Director gbnewby@pglaf.org Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide spread public support and donations to carry out its mission of increasing the number of public domain and licensed works that can be freely distributed in machine readable form accessible by the widest array of equipment including outdated equipment. Many small donations ($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt status with the IRS. The Foundation is committed to complying with the laws regulating charities and charitable donations in all 50 states of the United States. Compliance requirements are not uniform and it takes a considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up with these requirements. We do not solicit donations in locations where we have not received written confirmation of compliance. 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